RAIO DE TI é uma peça que busca a reflexão sobre a apropriação artística ao mesmo tempo que levanta questões relacionadas com a experiência, a memória e a representação que são próprias deste projecto: a história de vida e o lugar de fala.
Aqui, revela-se a emancipação e poder da criação artística da mulher.
A bailarina apropria-se das imagens do filme, nunca concluído, “Nether Ballerina of Rottingdam” que teve como móbil criativo trocas e tensões entre dois mundos: o do cineasta Demetri Estdelacropolis e a então jovem bailarina contemporânea Rita Vilhena. As lentes da câmera do cineasta exploraram a imagem da jovem altamente erotizada, em tarefas mundanas como, por exemplo, a fazer a sua higiene pessoal, a dormir ou ao acordar e, num outro extremo em cenas de masturbação, em trabalhos precários que a jovem bailarina desempenhava a fim de sobreviver na sua condição de artista ou a realizar trabalho doméstico, sem roupa interior. Todas estas micro narrativas enfatizavam a imagem da bailarina como uma personagem erotizada.
A partir do acervo de cerca de 150 horas de imagens filmadas, a bailarina reedita, agora, esse período da sua vida para dar lugar a uma nova leitura dos raios que o cineasta deixou em si.
A bailarina faz, com este trabalho, um exercício criativo de auto-representação para desta forma ganhar domínio sobre a sua própria história de vida, sobre a sua própria identidade e, distanciando-se do tom denunciante das performances feministas da segunda vaga, realizar um trabalho de cura construindo uma nova realidade com a reedição desta história.
Entre as imagens do passado e os movimentos do corpo presente, a bailarina transforma o gesto do filme numa nova dança, dando-lhe um novo significado.
RAIO DE TI, mais que um ajuste de contas com o passado, é um novo discurso poético-sensível sobre o que pode ser a construção de memória e, sucessivamente, a possibilidade de contaminar um futuro mais livre e inclusivo.